"O eu é feito de pedaços do outro. Tudo é do outro. Escutar é permitir a presença do outro. O aluno que eu escuto vem morar em mim. A presença do outro me completa."
(Bartolomeu Campos de Queirós)

domingo, 7 de novembro de 2010

Ética: é melhor prevenir que remediar

Para pais, filhos e educadores “trocarem ideias”

Nestas últimas décadas, nunca se falou tanto em ética. Ao abrirmos jornais e revistas, esta palavra se destaca com frequência. Fiz o “teste de São Tomé” extraindo algumas frases: “Ética: deputados pianistas voltam a atacar no Congresso” (Isto é, nº 1586). A lista seria interminável. As poucas frases citadas provocam em nós muitas indagações: ética em crise? Deputados se tornaram pianistas? Por quê?
A ética é daquelas coisas sobre as quais todo mundo fala, mas que falta tanto no dia a dia! Iremos fundo ao coração da ética, se nós, seres humanos (pais, filhos, educadores, cidadãos) nos perguntarmos: o que faço por mim? E pelos outros? Que sentido tem a minha vida? Respeito a mim mesmo? O que é o outro para mim? O que pretendo da vida? Perguntas que incidem no nosso conviver cotidiano e nos ajudam a pensar sobre as decisões que tomamos e nas ações que nos propomos levar em frente.
Vivemos dias marcados por tanta violência e desencontros. Faz-se necessária a retomada do diálogo que nos apresentam estes questionamentos, reservando-nos um tempo ao redor da mesa familiar ou do ambiente de trabalho para discutirmos questões que nos são pertinentes. Ainda mais se temos em nossos lares adolescentes.
Para que serve a ética? A ética é a “ciência do que o homem deve ser em função do que ele é” (Sertillanges). Diz respeito a tudo o que tem relação com a vida humana. Brota de dentro do ser humano e aponta horizontes para a sua realização. O seu princípio fundamental é “fazer o bem e evitar o mal”. A ética serve, portanto, para o homem ser um bom cidadão. Mas, como ser bom cidadão frente a tantas adversidades? Nossos adolescentes não estão à mercê da pressão social, da mass media (mídia de massa) e da publicidade? Os pais têm sido complacentes e tolerantes diante dessa situação?
Em face à poderosa pressão grupal, com o temor da exclusão de seus pares, os pais fazem a si mesmos essas indagações: O que eles nos dizem? O que nos solicitam? O que mais necessitam? Oferecemos-lhes suportes para fortalecerem a sua atitude crítica e cautelosa? Damos importância aos valores? Mas, o que entendemos por valor? Quais são os referenciais do nosso grupo familiar? O que é bom e o que é mal? Por quê? Os valores dos diferentes grupos familiares são coincidentes?
Importa educar as crianças e adolescentes para as qualidades morais, pois nessas fases costumam existir pouca percepção e escassa avaliação do risco. A ética serve para colocarmos perguntas adequadas. Por exemplo: os amigos dos nossos filhos lhes propõem condutas duvidosas que farão com que eles se perguntem: o que é mais importante para mim? Sou autônomo, tenho opinião própria? Eles querem ter reconhecimento diante dos amigos. Mas quais são os limites? É fundamental perguntarmos que valores nossos filhos consideram importantes?
A responsabilidade moral, a busca da felicidade, o discernimento entre o certo e o errado são princípios que remontam a Aristóteles, mas que nossos filhos devem ter condição de praticar o mais cedo possível, para assim se tornarem sustentáculos de uma sociedade saudável.
Para concluir, evoco Domenico De Masi, no livro Ócio Criativo: “(...) com a mudança dos valores, devem mudar também os métodos pedagógicos adequados à sua transmissão. Se para educar um jovem a lutar por dinheiro e poder adotava-se uma pedagogia que premiava o egoísmo, a hierarquia e a agressividade, para educar os jovens para os valores emergentes, os métodos a serem usados deverão valorizar mais o diálogo, a escuta, a solidariedade e a criatividade”.

Texto do professor Antonio Itamar da Silva enviado ao Jornal Virtual. O educador é pedagogo, mestre em Gerontologia e diretor do Centro Educacional Stella Maris, de Taguatinga (DF).