Coloquei aqui somente uma parte do texto. Para lê-lo na íntegra acesse o site:
http://www.pedagobrasil.com.br/pedagogia/apedagogiaparaalem.htm
(...)
"O que pode e deve ser a pedagogia hoje
É preciso refletir sobre o que pode e deve ser a Pedagogia hoje : deve ser, por certo, a ciência que organiza ações, reflexões e pesquisas na direção das principais demandas educacionais brasileiras contemporâneas, com vistas à:
- qualificação da formação de docentes como um projeto político-emancipatório;
- organização do campo de conhecimento sobre a educação, na ótica do pedagógico;
- articulação científica da teoria educacional com prática educativa;
- transformação dos espaços potenciais educacionais em espaços educativos/formadores;
- qualificação do exercício da prática educativa na intencionalidade de diminuir práticas alienantes, injustas e excludentes encaminhando a sociedade para processos humanizatórios , formativos e emancipatórios.
Quando me refiro à formação do cientista educacional, estou me referindo à formação de um profissional :
- com capacidade de mediar um projeto político-educacional em consonância com os pressupostos da sociedade e as demandas presentes na práxis educativa;
- capacitado a ampliar a esfera do educativo dentro das possibilidades educacionais : que organize espaços e ações para pedagogizar o educacional latente na sociedade;
- capaz de organizar, supervisionar e avaliar processos institucionais de forma a transformar a prática educativa mecânica, alienada e técnica, em práxis educativa, comprometida social e politicamente;
- capaz de responsabilizar-se na organização e direção de projetos de formação inicial e contínua dos educadores da sociedade, docentes e não docentes;
- que transforme saberes da prática educativa em saberes pedagógicos, cientificizando o artesanal/intuitivo do fazer da prática em saberes pedagógicos;
- que organize processos de pesquisa de cunho formativo-emancipatório de forma a estruturar as inovações educativas pressentidas como necessárias, a partir das demandas emanadas da práxis;
- que atue como gestor/pesquisador/coordenador de diversos projetos educativos, dentro e fora da escola: pressupondo sua atuação em atividades de lazer comunitário; em espaços pedagógicos nos hospitais e presídios; na formação de pessoas dentro das empresas; que saiba organizar processos de formação de educadores de ONGs; que possa assessorar atividades pedagógicas nos diversos meios de comunicação como TV, rádio, internet, quadrinhos, revistas, editoras, tornando mais pedagógicas campanhas sociais educativas sobre violência, drogas, aids, dengue; que esteja habilitado à criação e elaboração de brinquedos, materiais de auto estudo, programas de educação à distância; que organize, avalie e desenvolva pesquisas educacionais em diversos contextos sociais; que planeje projetos culturais e afins;
- que na escola, seja o mediador de processos administrativos e pedagógicos, quer na gestão, supervisão, orientação, acompanhamento e avaliação de projeto político pedagógico da unidade escolar, bem como estabelecendo e articulando as vinculações da escola com a comunidade e sociedade.
- que seja o organizador privilegiado do campo de conhecimento da Pedagogia e interlocutor preferencial nas articulações e construções coletivas com ciências afins;
- profissional empenhado na busca de respostas à construção de práticas educativas inovadoras que cumpram seu papel social na humanização dos cidadãos;
- integrador dos demais espaços educativos com o espaço escolar na busca de uma nova lógica educacional capaz de reconduzir a representação de ensino como transmissão de informação para concepções que priorizem a articulação dialética entre ser, saber e construir novas configurações de existência;
- profissional enfim, envolvido com a construção da profissionalidade docente, na busca de condições políticas e institucionais favorecedoras de novas e significativas relações sociais desejadas pelo coletivo.
Como já me expressei, o curso de Pedagogia pode, mantendo a mesma denominação, ser um curso exclusivo de formação de docentes, e terá que enfrentar o desafio de absorver as diversas abrangências desta formação: docentes para toda a educação básica, docentes para adultos, docentes para educação à distância, entre algumas possibilidades.
Esse curso de Pedagogia, no entanto, poderia, à semelhança de um curso de engenharia[4], integrar diferentes especificidades, amarradas ao específico do pedagógico, qual seja a investigação da práxis, quer seja a práxis docente, ou a práxis escolar, ou a práxis pedagógica.
Assim poderemos considerar :
A Faculdade de Pedagogia poderia se estruturar em torno de diferentes cursos :
- Curso de Pedagogia Docente, para a formação do pedagogo docente, abrangendo prioritariamente a formação de docentes para educação infantil, educação fundamental e devendo em cursos paralelos formar docentes de áreas específicas de conteúdo;
- Curso de Pedagogia Escolar, que buscando superar a fragmentação imposta aos especialistas da educação, deveria formar o pedagogo escolar, com foco no sistema escolar, na escola, nos processos de planejamento e gestão das mesmas.
- Curso de Pedagogia Investigativa , que buscará formar o pedagogo stricto sensu, cientista educacional por excelência, com foco voltado à compreensão e cientificização das práticas educativas sociais, aí incluídas, prioritariamente, a prática docente e a escolar.
Os diferentes cursos dentro de uma mesma faculdade deverão manter processos de interformação, alimentando-se mutuamente, recriando-se e transformando-se mutuamente.
Essa é uma proposta, que procura caminhar para além dos confrontos e de forma coerente com a epistemologia da Pedagogia, tal qual a concebo, e que está mais detalhada em minha tese de doutorado, Franco (2001). Esta proposta também procura superar o confronto de excessos de conteúdos fragmentados em uma mesma formação.
Uma das convicções que tenho construído em mais de 25 anos de trabalho com os cursos de Pedagogia é a de que, se pretendemos bem formar o docente, que denomino agora de pedagogo docente, devo aprofundar essa formação, na especificidade do saber construir a práxis docente, com vistas a um profissional realmente compromissado, autônomo, pesquisador. Assim, esse curso não poderá ter outra intencionalidade, sob pena de superficializar essa intenção e descaracterizar a proposta inicial. Formar o pedagogo docente é uma tarefa muito complexa, que exige um curso todo, com pelo menos 3200 horas e quatro anos de integralização, com diferentes espaços e atividades pedagógicas se entrecruzando num processo de contínua e permanente autoformação.
O mesmo deve ser considerado na proposta de formar o pedagogo escolar e o pedagogo stricto-sensu.
Realço que o pedagogo escolar há que ter uma formação ampla, com foco voltado ao sistema escolar e não apenas às fragmentadas atividades de especialistas da educação conforme temos convivido há anos. Esse profissional deverá se aprofundar nas questões de planejamento e avaliação dos sistemas escolares, em consultorias de avaliação às escolas, em redirecionamento de perfis escolares, assim como nas funções de gestão e planejamento da nova e pretendida ecologia escolar. Considero essa formação tão complexa quanto a anterior, requerendo também o mesmo tempo mínimo de formação.
O pedagogo stricto-sensu, terá seus estudos mais voltados à questão da práxis pedagógica, como aqui a descrevo, será um pesquisador da realidade educativa, dos processos de inovação das práticas educativas, um intelectual mediador do projeto político educacional. Também um curso complexo que requer o mesmo mínimo de tempo de formação que os demais.
Outros modelos, novos cursos, novas propostas poderão surgir. Hoje vejo assim uma forma de revigorar a formação pedagógica abrangendo algumas de suas mais básicas especificidades e demonstrando que, apesar da descrença de muitos legisladores, o curso de pedagogia tem uma profunda e complexa especificidade. Seu conteúdo conceitual não pode ser tratado de forma apequenada ou superficial. Mas tem que ser enfrentado com o pensamento complexo, ousado e transformador. Nossa sociedade clama, espera e aguarda por dias melhores. Os pedagogos têm muito a fazer nesta direção, é preciso apenas tirar o pó de nossas reflexões e, ousadamente, reinventar nossa profissão" . (...)